Monday, April 13, 2020

anna negra

letter to humanity - Álvaro Seiça

anna é uma velha

anna é uma velha preta aos bocados, partiu-se em duas janelas quando espreitava pelos cantos os pássaros que armazenavam, entre eles, o espanto. limpa-se aos cotovelos estagnada a chuva, limpa-lhe os dentes a traça dos animais inverosímeis que testemunhou num outro mundo acabado. ainda bem que Anna acabou e o mundo também, aos prantos, e jorraram lentos os ditados de que a chuva caiu, finita. anna matou-nos. não é um boneco qualquer, um borrão ou uma silhueta apenas importante que o mundo visto daqui é vasto e as sombras, por aí, miraculosas. Anna é agora uma flor, o pescoço esticado e o dedo arrancado à roupa, a pele e o frio das vértebras descarnado, o sangue que, à janela, sucumbe quando os ossos interditos estão gastos, e a floresta conspira para nos matar a todos. 

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